Daniel Martins embolsou mais de R$ 100 mil de folha secreta do governo do Rio de Janeiro

O ex-vereador Daniel Marcos Barbiratto de Almeida, conhecido como Daniel Martins/Reprodução

Ex-vereador que foi preso juntamente com o padrasto, deputado Luiz Martins (na foto à esquerda), na Operação Furna da Onça, da Polícia Federal: esquema de folha de pagamento secreta do governo do RJ

Um dos alvos da Operação Furna da Onça, fase da Lava Jato que marcou o combate à corrupção no estado do RJ, o ex-vereador do Rio Daniel Marcos Barbiratto de Almeida, conhecido como Daniel Martins, foi contratado em projeto usado para empregar aliados políticos do governador Cláudio Castro (PL) na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

O político foi preso em 2018 sob acusação de atuar como operador de um deputado em esquema do ex-governador Sérgio Cabral, que pagava propina em troca de apoio político na Assembleia Legislativo do estado (Alerj). Barbiratto ficou nove meses preso preventivamente sob a acusação de corrupção passiva. As investigações foram conduzidas pelo Ministério Público Federal (MPF).

O portal Uol publicou reportagem ontem (17), segundo a qual Barbiratto consta entre os nomes na lista de pagamentos do Observatório Social da Operação Segurança Presente, realizado na Uerj com recursos da Secretaria Estadual de Governo (Segov). O programa, juntamente com outros 17
implementados pela instituição de ensino com dinheiro público do governo do estado, é marcado por falta de transparência e folhas de pagamento secretas.

‘Fantasma’ na lista de convocados
O UOL obteve documentos de um processo de prestação de contas, que mostra que Daniel Martins embolsou ao todo R$ 112 mil entre junho e dezembro do ano passado, período em que recebeu salário de R$ 16 mil.

Apesar de ter permanecido no programa até junho de 2021, não é possível saber quanto o político recebeu neste ano em razão da falta de transparência sobre os dados do projeto.

O Observatório foi iniciado quando a Segov era comandada pelo deputado estadual Rodrigo Bacellar (PL), braço direito do governador Cláudio Castro e hoje líder do governo no Legislativo fluminense. A Uerj e o governo do RJ afirmaram que todos os contratados passaram por processo seletivo simplificado. Entretanto, o nome de Daniel não aparece na lista de convocados em nenhum dos quatro editais divulgados no site da instituição.

Enteado e operador do deputado Luiz Martins
Daniel é enteado do deputado estadual Luiz Martins (União Brasil-RJ), também preso na Furna da Onça. O processo deixou a esfera criminal e corre na Justiça Eleitoral, onde aguarda denúncia. As investigações do MPF apontaram que o ex-vereador atuava como um operador de Luiz Martins, recebendo os pagamentos mensais feitos pela quadrilha de Sérgio Cabral para comprar o apoio político
do deputado estadual.

Em depoimento ao MPF, Sergio de Castro Oliveira, o Serjão, assessor direto e um dos operadores do ex-governador, afirmou que s pagamentos a Martins começaram no final de 2009 e duraram até março de 2014. O MPF afirma que o mensalinho era de R$ 80 mil.

Mensalinho via doleiros
Ainda segundo o portal Oul, na denúncia feita em 2018, os procuradores afirmam que Barbiratto era um dos responsáveis por receber a mesada, enviada por meio de doleiros. “O arranjo quanto às circunstâncias dos pagamentos era feito, via de regra, por contatos telefônicos entre Sergio de Castro Oliveira (ou “Serjão”), assessor direto de Sergio Cabral, e o gabinete do deputado estadual Luiz Martins, que combinavam quem receberia o dinheiro, onde e quando.

As entregas de propina ocorreram no Centro da cidade do Rio de Janeiro, na Rua Erasmo Braga, onde ficava o escritório do referido parlamentar, diretamente para ele ou para Daniel, por meio da rede de doleiros de Renato Chebar e Marcelo Chebar, notadamente Claudio Barbosa e Vinícius Claret”, diz o MPF.

As entregas de dinheiro vivo para Barbiratto foram confirmadas por Luiz Carlos Linhares Ferreira, um dos homens responsáveis por transportar remessas de dinheiro enviadas pelos doleiros que atuavam para a quadrilha de Cabral. Segundo o MPF, Ferreira forneceu “informações pormenorizadas” sobre os locais de entrega e reconheceu Barbiratto por meio de fotografias.

Daniel e Luiz Martins negam as acusações feitas pelo MPF. A Operação Furna da Onça foi deflagrada pela Força-Tarefa da Lava Jato no Rio em novembro de 2018. Na ação, foram presos dez deputados estaduais, dois integrantes do primeiro escalão do governo do Rio, além de outras 14 pessoas.