Em meio à disputa de bandidos, polícias do RJ apreendem 3 fuzis por dia em 2023: ‘Sinal de que tem mais’, diz analista
As polícias do estado do Rio de Janeiro apreenderam 222 fuzis entre 1 de janeiro e a última quinta-feira (16), segundo dados obtidos pelo g1. Em média, 3 armas deste tipo são recolhidas por dia pelas polícias Militar, Civil, Federal e Rodoviária Federal.
O g1 também teve acesso a microdados da PM: 100 fuzis foram tirados de criminosos entre 3 de janeiro e 27 de fevereiro. No mesmo período de 2022, a corporação recolheu 58: um aumento de 72% nas apreensões.
Para policiais e especialistas em segurança pública, as disputas, cada vez mais constantes, entre traficantes e milicianos por territórios nas zonas Oeste, Norte e Baixada Fluminense têm levado à
circulação cada vez maior de fuzis nas diferentes regiões do RJ.
Atualmente, há pelo menos 20 comunidades com constantes confrontos entre facções criminosas. Os tiroteios passaram a ser constantes desde os primeiros dias de janeiro. Não à toa, as regiões mais violentas concentram o maior número de apreensões.
“O Rio não é um estado que produz este tipo de armamento. Isso chama a atenção não só para o estado, mas também para todo o Brasil. Essa arma está chegando aqui de alguma forma. É preciso uma ação do governo federal, da prefeitura, sem fugir da nossa responsabilidade, enfim, de todos os entes para solucionar este problema”, afirmou o secretário da Polícia Militar do RJ, coronel Luiz Henrique Marinho Pires.
Acúmulo de armas na pandemia
Só na quarta-feira (15), a PM apreendeu oito fuzis com traficantes que fugiam da Cidade de Deus, considerada uma base para o Comando Vermelho na disputa por territórios da região de Jacarepaguá.
“Essa disputa territorial armada já estava ensaiada desde a Covid, onde foi possível acumular armamento, meios e outros recursos para resgatar territórios perdidos. A capacidade hoje de enfrentamento entre os grupos aumentou, o que torna o conflito ainda mais violento”, contou a antropóloga Jaqueline Muniz.
Armas de guerra para roubos na cidade
Além disso, fuzis se tornaram arma usual nos roubos de carga, de veículos e até de joalherias.
No dia a dia das comunidades, os fuzis são vistos ainda nas mãos de “seguranças” de chefes de quadrilhas de traficantes, milicianos ou de assaltantes.
“Não podemos aceitar isso como comum. Não podemos aceitar isso como normalidade. Não é o caminho, e não podemos aceitar isso como normal. É preciso trabalhar juntos para acertar isso”, diz o secretário da PM do RJ.
Apreensão tardia: ‘Fuzil já está pronto para efetuar o disparo’
O coronel Robson Rodrigues, pesquisador do Laboratório de Análise da Violência (LAV), da Uerj, vê nos dados um sinal de uma situação de alerta no Rio.
“Esse número é um sinal de que a gente vai mal das pernas. Se a PM encontra nas ruas é porque essas armas estão ostensivas por aí. É um pequeno sinal de que tem mais dessas armas. Se tem confrontos, há uma demanda. É preciso que as polícias Civil e Federal se envolvam nisto, porque se a apreensão acontece na comunidade, o fuzil já está pronto para efetuar o disparo e ferir alguém. A ação precisa ser feita antes”, analisa.
Raio-x das apreensões
A primeira apreensão de 2023 aconteceu na comunidade da Chatuba, em Mesquita, quando policiais do 20º BPM encontraram um fuzil de calibre 5.56 sem marca definida.
O centésimo foi apreendido na Vila Kennedy, Zona Oeste da cidade, por policiais do 14º BPM. A arma tinha o calibre 7.62 e era da marca Imbel.
A Zona Oeste do Rio é a região onde a PM mais apreendeu fuzis nestes primeiros 54 dias do ano: 47 armas deste tipo. Desde janeiro, traficantes e milicianos aterrorizam moradores com tiroteios em diferentes horas do dia.
Depois da Zona Oeste, a Baixada Fluminense vem com 27 apreensões.
Desse total, o equivalente a 69% aconteceu em áreas dominadas por traficantes do Comando Vermelho. Outros 13% em áreas de traficantes do TCP e 12% em comunidades com milicianos.
Em 2023, até a quinta-feira (16), a Polícia Militar apreendeu um total de 139 fuzis em diferentes pontos do RJ. A Polícia Civil, apreendeu nove dessas armas. A Polícia Rodoviária Federal apreendeu um fuzil e a Polícia Federal, 73. Todas essas armas encontradas pela PF estavam em duas lojas, em Nova Iguaçu, na
Baixada Fluminense.
“É muita coisa. Esses dados nos mostram como o RJ é hoje uma cidade conflagrada. É a comprovação de que há mais fuzis em circulação. A PM apreende tanto e nem assim os tiroteios são interrompidos”, avalia o policial federal Roberto Uchôa, do Fórum de Segurança Pública. (com informações do g1)