Em sessão tumultuada e com acusação de misoginia, Alerj aprova concessão de Medalha Tiradentes a Paula Lavigne

Paula

A empresária Paula Lavigne será homenageada com a Medalha Tiradentes pelos serviços prestados à cultura. Mas o projeto de concessão, apresentado pela deputada Dani Balbi (PCdoB), foi aprovado na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), nesta quarta-feira (23/008), cercado de tumulto. O que poderia ter sido uma votação normal de plenário, acabou em acusações de misoginia, embate entre governistas e oposição e até suspensão da sessão.

A largada foi dada por Thiago Gagliasso (PL) que, contrário à concessão da Medalha, pediu verificação de quórum durante a votação. Como a pauta estava extensa e havia o risco de a sessão cair, retirou a solicitação a pedido do líder do governo, Dr. Serginho (PL). Mas ao abrir o microfone para as declarações de voto, a deputada Tia Ju (Republicanos), que presidiu a sessão, teve que assistir e ouvir uma verdadeira balbúrdia ideológica.

O ponto alto, no entanto, foi quando Anderson Moraes (PL) tomou a palavra para também declarar voto contrário à homenagem. “Nada pessoal (contra Paula Lavigne), pelo contrário. O próprio deputado Pedro Ricardo disse que, se fosse pelas atitudes dela de hoje, não votaria ao contrário, mas em memória da juventude dele, por várias homenagens que ele já prestou para ela, ele votou a favor, inclusive”, disse.

O teor da fala não agradou a Renata Souza (Psol) que, como presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, reagiu reagiu: “Ele tratou de objetificar Paula Lavigne, dizendo que Paulo Ricardo a teria homenageado em sua juventude. Eu repudio veementemente a fala do deputado Anderson Moraes, que foi extremamente misógina, machista com relação à Paula Lavigne. Quando nós chegamos a lugares que esses homens não têm a capacidade de chegar porque são misóginos e odeiam mulheres, temos falas absurdas, nojentas como a do deputado Anderson Moraes”.

Moraes se defendeu argumentando que era casado e pai de duas filhas. Aos gritos, disse que não aceitaria a acusação. Renata, então, apontou a mão em sua direção, pedindo para que ele falasse baixo. “Baixa o dedo. Vossa excelência não vai imputar a mim o apelido de misógino, porque eu não sou. Me respeite, porque eu não sou da sua laia. A senhora não vai imputar isso para cima de mim não. Baixe a sua bola”, respondeu.

Os ânimos chegaram a se acalmar com as falas seguintes, mas Rodrigo Amorim (PTB) tratou de colocar nova lenha na fogueira ao tomar as dores de Moraes. A notória rivalidade dos dois deu o ar da graça quando ele, sem citar o nome de Renata, criticou seu mandato. “A deputada que fez as acusações de baixíssimo nível contra o deputado Anderson Moraes estava há muito tempo sendo sufocada na própria esquerda. Ela não tem pauta, ela não produz absolutamente nada neste Parlamento”, provocou.

Renata quis responder, mas sem ter o nome citado foi impedida por questão regimental. Como outros parlamentares ainda tinham que falar, Tia Ju tentou acalmar o ambiente, pois a deputada insistia em ter a palavra. Neste momento, a sessão foi suspensa para um acordo. Amorim continuou a gritar fora do microfone. Por fim, decidiu-se que o embate continuaria no expediente final. A votação foi concluída e a Medalha aprovada.

Curiosamente, os dois últimos discursos do expediente final foram justamente de Renata e Amorim. Assim que terminou seu discurso, a deputada teve que presidir o Parlamento e chamar o colega para falar. O clima bélico, por sua vez, deu lugar a provocações e alfinetadas entre os desafetos.

Homenageada

Casada com o cantor e compositor Caetano Veloso há quase 40 anos – numa relação marcada também por polêmicas, desencontros e reconciliação –, Paula Lavigne começou a carreira como atriz nos anos 1980. Depois, passou a empresariar a carreira do próprio marido e a produzir cinema, estando à frente dos longa-metragens “Lisbela e o Prisioneiro” e “O Bem Amado”.

“Paula se engajou em manifestações políticas, transformando seu capital cultural e suas relações interpessoais na militância pelo clima, em defesa do meio ambiente, das populações originárias, na defesa dos direitos humanos e de ampliação de cidadania”, justificou a deputada Dani Balbi.

De Pai para Filho

Na mesma sessão, e sob clima de paz, os deputados também aprovaram a entrega da Medalha Tiradentes ao deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ). A proposta, por sua vez, partiu do seu pai, o deputado estadual Otoni de Paula Pai (MDB). Ambos são líderes evangélicos ligados ao bolsonarismo. Aliás, a justificativa para a concessão da medalha incluiu justamente sua trajetória política e seu perfil conservador. O federal já anunciou que será pré-candidato do partido na disputa pela prefeitura do Rio em 2024.