Empresas de famílias ligadas ao Dr. Luizinho mantêm contratos sem licitação com o estado do RJ

Dr. Luizinho aparece em confraternização ao lado da mãe, e da irmã, Doutora Roberta, recém-eleita vice-prefeita de Nova Iguaçu, e das duas famílias beneficiadas com contratos/Reprodução
Muitos desses acordos foram firmados na época em que o deputado federal era o secretário de saúde do RJ
Os laços estreitos que unem duas empresas pertencentes a famílias influentes em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, ao deputado federal Doutor Luizinho (Progressistas) são mais fortes do que mostram as aparências. O resultado dessa influência política está em contratos ativos mantidos com a Fundação Saúde e o Governo do Estado do Rio de Janeiro. Muitos, firmados sem licitação na época que Luizinho foi secretário estadual de Saúde.
Uma das empresas pertence ao Grupo Sahione, que recebeu os primeiros pagamentos do Estado em outubro de 2022. Três meses antes, os donos foram homenageados por Luiz Antônio Teixeira, que é pai do então secretário estadual de Saúde, Doutor Luizinho. A amizade entre as duas famílias dura décadas e perpassa gerações.
Levantamento feito pelo jornalismo da TV Globo mostra a relação entre políticos influentes à frente da Saúde do estado, de um lado, e de outro, os donos do laboratório que ganhou mais de R$ 10 milhões da Fundação Saúde, sem jamais ganhar uma licitação. A maior parte desse valor foi pago pelos Termos de Ajuste de Contas (TACs).
Descontrole nos gastos e falta de transparência
O Laboratório de Análises Clínicas São José, do Grupo Sahione, é um exemplo negativo do que o Tribunal de Contas do Estado (TCE) considera um descontrole nos gastos. Os primeiros pagamentos foram para serviços de radiologia na UPA do Complexo Penitenciário de Bangu, há dois anos. Até o momento, o serviço não foi licitado e os pagamentos emergenciais continuam sendo feitos.
Além de pagamentos feitos sem licitação, o serviço prestado também não é transparente. O laboratório apresenta um relatório dizendo que realizou um determinado número de exames. Contudo, a empresa não informa os dados dos pacientes e nem a data dos exames supostamente realizados.
Caso dos órgãos infectados
O governo do estado trocou a diretoria da Fundação Saúde em outubro deste ano, após o escândalo com os órgãos transplantados com HIV.
Seis pessoas que estavam na fila do transplante da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) receberam órgãos infectados pelo HIV de dois doadores e testaram positivo para o vírus. O incidente é inédito na história do serviço.
A Justiça determinou a prisão dos sócios e alguns funcionários do laboratório PCS Lab Saleme, em Nova Iguaçu,
responsável pelos exames que liberaram os órgãos para os transplantes.
A Polícia Federal (PF) já investiga a possibilidade de desvio de recursos públicos no caso de seis pacientes que passaram a viver com HIV após receberem órgãos pela Central Estadual de Transplantes do Rio. A corporação passou a apurar a situação com a tentativa de preservar o Sistema Único de Saúde e o Sistema Nacional de Transplantes.
O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, falou sobre uma possível relação entre o deputado federal Doutor Luizinho e sócios do laboratório PCS LAB. Walter Vieira e Matheus Sales são tio e primo do político.
O delegado disse que, em caso de prerrogativa de foro e se a relação de parentesco estiver relacionada à contratação da empresa, a investigação pode ser enviada ao Supremo Tribunal Federal.
Mesmo com a crise provocada pela irresponsabilidade do laboratório, o novo diretor-executivo da Fundação Saúde também foi indicado por Doutor Luizinho. Marcus Vinicius Fernandes Dias foi homenageado pelo deputado federal do PP e também já o homenageou.
Outra família beneficiada
Não é só o Grupo Sahione que vem lucrando na saúde do estado do Rio. Outra família muito ligada a Doutor Luizinho também tem contratos com a Fundação Saúde: os Mentrop. A família Mentrop é responsável pelos laboratórios Palmar Lab e pelo Centro Médico Dom Walmor.
As duas essas empresas já receberam mais de R$ 50 milhões de verba pública da Fundação Saúde. Muitos serviços sem contrato, alguns contratos com dispensa de licitação e poucos com pregão eletrônico.
A Palmar Lab, inclusive, foi a terceira colocada no pregão que escolheu o PCS Saleme para cuidar dos exames da Central Estadual de Transplantes, que acabou gerando a crise dos órgãos infectados com HIV.
Em um evento, Luizinho, sua mãe, sua irmã – Doutora Roberta, recém-eleita vice-prefeita de Nova Iguaçu -, aparecem no centro das duas famílias: do lado esquerdo os Sahiones, do direito, Ana Mello Mentrop.
O governo do RJ está de olho nos contratos milionários, com dispensa de licitação, da empresa Eco Rio Facilities com a Secretaria Estadual de Saúde. A empresa funciona dentro de uma casa em Nova Iguaçu, berço eleitoral do ex-secretário da Saúde e líder do PP na Câmara dos Deputados, Dr. Luizinho.
Nos nove meses em que ficou à frente da Secretaria de Saúde, a Eco Rio Facilities firmou 15 contratos com dispensa de licitação na Fundação Saúde do Rio de Janeiro. O contrato com o valor mais baixo custou R$ 5 milhões.
Empresa pertencente ao deputado Carlinhos BNH foi contratada sob método suspeito/Reprodução
Contrato com empresa ligada a deputado e outras coincidências
Duas empresas ligadas pelo mesmo endereço e pelo mesmo contador, uma das quais pertencente ao deputado estadual Carlinhos BNH (Progressistas), aliado fiel do Doutor Luizinho, foram contratadas pela Fundação Saúde com métodos pouco transparentes.
A outra, controlada por Paulo Figueiredo, pelo contador do parlamentar, recebeu R$ 20 milhões da entidade sem licitação: a RVC Garra Patrimonial, que presta serviços administrativos e de apoio em unidades de saúde estaduais, jamais venceu qualquer licitação. Uma delas é a UPA da Penha, onde falta até insumos para aplicar soro.
Dos R$ 20 milhões que a RVC recebeu da Fundação Saúde, R$ 5 milhões foram pagos em termos de ajuste de contas (TACs), indenizações, sem nenhum tipo de concorrência, nem um contrato sequer.
A RVC já funcionou no mesmo endereço onde, hoje, funciona a empresa do BNH, a CS Forte Serviços Patrimoniais.
Foi o contador do deputado que abriu as duas empresas. Uma foto de um banner antigo mostra o endereço da RVC, o mesmo da CS Forte: Rua Philomeno Coelho, em Santa Rita, Nova Iguaçu.
Um documento mais recente mostra que, até pouco tempo, a própria RVC declarava ao governo federal ainda funcionar no endereço, onde, na verdade, está registrada a empresa de Carlinhos BNH.
Se as histórias das duas empresas se cruzam, não é diferente com as histórias de seus representantes. Os dois dividem a tarefa de fazer campanha, nas redes sociais, para Doutor Luizinho.
A relação do empresário e do deputado estadual vem de longa data. Carlinhos BNH começou na política como vereador em Nova Iguaçu. Na época, Paulo Figueiredo tornou-se assessor parlamentar na Câmara Municipal.
Quando BNH se elegeu deputado, em 2022, Paulo Figueiredo o acompanhou: passou a dar expediente num setor burocrático da Assembleia Legislativa (Alerj).
Atualmente, a esposa do contador, Laura Gottgtroy, está nomeada no gabinete de BNH.