Flagrado em infração, deputado ‘apadrinhado’ da milícia denuncia PMs na Corregedoria após abordagem

Ravis

Deputado Felipinho Ravis protestou contra a ação dos PMs que estavam no cumprimento do dever. Câmeras corporais provaram que não houve excesso por parte dos agentes

Nesta semana, um veículo SW4 com placa coberta por chapa de bronze e películas de quase 100% nas janelas trafegava pelo Centro de Nova Iguaçu quando chamou a atenção de policiais do 20º Batalhão de Polícia Militar (Mesquita) que patrulhavam a área.

Ao ser abordado, o motorista se identificou como parlamentar e demonstrou irritação por ter sido parado pelos PMs. Deputado estadual, Felipe Rangel Garcia, conhecido como Felipinho Ravis (Solidariedade), ficou ainda mais irritado quando os agentes pediram para que sua esposa descesse do veículo para iniciar a verificação, rotina de praxe em casos de veículos suspeitos.

O carro, que logo se soube, era blindado, tinha ‘insulfilm’ nas janelas. E as das portas traseiras não abaixavam, o que impedia a equipe de PMs verificar quantos ocupantes havia no veículo.

Numa atitude explicita de abuso de autoridade, Ravis usou da prerrogativa de parlamentar para protestar contra a abordagem policial. Ele denunciou os PMs na Corregedoria da Polícia Militar.

Segundo apurou a reportagem, a equipe que realizou a ocorrência usava câmeras corporais, o que validou o depoimento na Corregedoria, destruindo a versão do político sobre os policiais terem usado de excesso na abordagem. “Os agentes agiram de forma técnica e sem excessos”, disse um policial ao comentar o caso.

‘Fanfarronice’
A atitude arrogante de Ravis, que é filho de policial militar e foi vereador em Nova Iguaçu, foi duramente criticada nas redes sociais, principalmente por agentes da lei, que enfrentam a rotina de violência no Rio de Janeiro. Um policial escreveu: “Deve está se achando melhor que os outros. Triste saber que um deputado eleito em nosso município não apoia o trabalho da segurança pública em sua tentativa frustrada de prejudicar os policiais”.

Outro agente comentou: “É esse tipo de ignorância que passamos nas ruas. Lamentável. Nunca me representou e agora mais essa. Respeite a Polícia Militar. Respeite nosso trabalho!”, para depois questionar: “E se tivesse sendo sequestrado com a família de refém? Daria queixa na Corregedoria ou estaria fazendo vídeo agradecendo a Deu pelo excelente trabalho da PM?”

Um terceiro disse: “Ele tinha que agradecer e não fazer uma fanfarronice dessas. Como policial fico extremamente chateado com atitudes como essa. Demonstra um desrespeito não somente com a instituição, mas com todos que lhe confiaram o voto. Parabéns aos policiais! Não desanimem e continuem abordando veículos com insulfilm”.

Dirigir veículo com placa adulterada pode levar à prisão em flagrante

O deputado, que coloca a regalia do cargo como prioridade e ignora a segurança, desconhece a recente mudança do Código Penal, que endurece a punição para quem conduz veículos com placas e chassis adulterados ou sem identificação.

Ele conduzia um carro com a placa original coberta por outra de bronze, o que configura crime passível de inquérito. Agora, o motorista flagrado com fita adesiva modificando um dos números ou com a placa parcialmente coberta vai responder a inquérito, e pode ser preso em flagrante. A Lei 14.562/2023 entrou em vigor em abril do ano passado.

Contran alterou regras sobre ‘insulfilm’

Em janeiro de 2023, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) estabeleceu novas leis para o uso de películas automotivas, conhecidas como “insulfilm”.

De acordo com a resolução 989/2022, agora é permitido 70% de transparência independentemente da cor do material. Antes era de 75%. A regra serve para as principais áreas que fazem parte da visão do motorista. Como, por exemplo, o para-brisas. Já no caso dos vidros traseiros, o mínimo permitido continua sendo 28%.

Deputada Lucinha seria braço político da maior milícia do Rio/Reprodução

Deputada Lucinha seria braço político da maior milícia do Rio

Votou a favor de colega suspeita de ligação com milícia
Envolvido na polêmica compra de máscaras de papel por valor astronômico à época em que foi presidente da Câmara Municipal de Nova Iguaçu, caso que lhe rendeu o apelido de o ‘homem da máscara de papel’, Felipinho Ravis foi um dos deputados integrantes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) a votar pela derrubada da decisão do Órgão Especial do Tribunal de Justiça do RJ que, no final de 2023, que determinou o afastamento da deputada Lucinha (PSD) por tempo indeterminado.

A parlamentar, que retornou à Casa, está na mira do Ministério Público e da Polícia Federal que investigam seu suposto envolvimento com a maior milícia do estado e a prática de rachadinha em seu gabinete.