Ministério Público Federal abre investigação sobre caso da menina baleada por policial rodoviário federal no Arco Metropolitano

heloisa

O procurador da República Eduardo Benones, coordenador do Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público Federal, determinou a instauração de um procedimento investigatório sobre o caso da menina de 3 anos baleada nesta quinta-feira (7) durante abordagem da Polícia Rodoviária Federal a um carro no Arco Metropolitano.

A Polícia Federal também instaurou inquérito para apurar as circunstâncias do fato. A investigação ficará a cargo da Delegacia de Polícia Federal em Nova Iguaçu, em razão do local da ocorrência.

Agente admitiu disparo
Em depoimento na 48 ª DP (Seropédica), o agente que efetuou os disparos afirmou que atirou depois que ouviu um barulho de tiro. A menina estava no carro com os pais, a tia e a irmã, quando disparos foram efetuados contra o veículo.

O policial Fabiano Menacho Ferreira disse que ele e dois colegas começaram a perseguir o veículo depois que foi constatado que o carro era produto de um roubo – o dono atual explicou que não tinha conhecimento. O agente disse que “depois de 10 segundos atrás do veículo”, os policiais “escutaram um som de disparo de arma de fogo, chegando a abaixarem-se dentro da viatura”.

Ele admitiu que efetuou três disparos com um fuzil calibre 556 na direção do Pegeaut onde a criança estava com a família “pois a situação lhe fez supor que disparo que ouvira veio deste veículo”. O agente admite que os disparos atingiram a menina e conta que socorreu a vítima em sua viatura ao Hospital Estadual Adão Pereira Nunes.

A Polícia Civil confirmou que o carro que levava a menina era roubado. O motorista e pai da criança, William Silva, disse que comprou o veículo recentemente e que não sabia que era irregular.

Heloísa dos Santos Silva foi socorrida e levada ao Hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, onde passou por uma cirurgia. De acordo com o boletim divulgado às 16h40h desta sexta-feira (8) pela prefeitura local, a menina foi internada no CTI e seu estado é grave.

“A direção do HMAPN informa que, ao dar entrada na unidade, a criança foi avaliada pela CIPE, neurocirurgia e pediatria, com realização de exames de imagem e laboratório. Mesma foi encaminhada para o centro cirúrgico, onde passou por procedzmento. No momento a paciente está entubada, no CTI do hospital, e seu estado é grave”, diz o boletim.

Pai nega abordagem
Fabiano e outros dois colegas que foram ouvidos como testemunhas – Matheus Domicioli Soares Viegas Pinheiro e Wesley Santos da Silva – afirmam que o giroflex e sirenes da viatura que usavam no momento da abordagem estava ligado.

Já o pai da menina baleada, William Silva, que dirigia o veículo, disse que passou pelo posto da PRF e não foi abordado em nenhum momento, mas percebeu que uma viatura da polícia passou a segui-lo e ficou muito próximo ao seu carro.

“A Polícia Rodoviária Federal estava parada ali no momento que a gente passou. A gente passou e eles vieram atrás. Aí eu falei: ‘Bom, tudo bem, mas eles não sinalizaram para parar’. E aí, como eles estavam muito perto, eu dei seta e, neste momento, quando meu carro já estava quase parado, eles começaram a efetuar os disparos”, explicou ele.

Ainda segundo William, a reação dele foi sair o mais rápido possível do carro para os policiais saberem que era uma família que estava no veículo. “Eu coloquei a mão para o alto, saiu todo mundo, só a minha menorzinha que ficou dentro do carro. Aí foi a hora que eu entrei em choque, em desespero, e a gente veio para esse hospital”, lamentou.

A família afirmou que o tiro acertou a coluna e a cabeça da criança. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias, Heloisa chegou na unidade com baixo nível de consciência, foi sedada e entubada. Após a realização de exames de imagem, ela passou por uma cirurgia de risco na madrugada desta sexta.

“Não tem previsão de alta. Ela está desacordada e vai ficar pelas próximas 48 horas”, disse William, ressaltando que ele estava dentro da velocidade adequada para o Arco Metropolitano.

Quando ocorreu o ataque, a família estava voltando para casa, em Petrópolis, depois de ter passado o feriado com parentes em Itaguaí, na Região Metropolitana do Rio.

Policiais afastados e fuzil apreendido
Em nota, a PRF informou que os três policiais envolvidos foram afastados de suas funções de forma preventiva, até que o caso seja apurado pela corregedoria da corporação. No informativo divulgado por volta das 10h desta sexta, a PRF não cita que o veículo que levava a família era roubado.

Segundo a Polícia Civil, apenas um dos três policiais envolvidos fez disparos contra o carro. O fuzil calibre 556 utilizado por esse agente foi apreendido e encaminhado para a 48ª DP (Seropédica), que ficou responsável pela investigação.

Em nota, a PRF informou que a corregedoria da corporação vai apurar as circunstâncias da ocorrência no Arco Metropolitano, por volta das 21h de quinta-feira. A força de segurança disse que os policiais envolvidos foram afastados de suas funções e que “solidariza-se com os familiares da vítima”.

“As circunstâncias estão em apuração pela Corregedoria da PRF. A instituição colabora com as investigações da polícia judiciária para o esclarecimento dos fatos. Os policiais envolvidos foram preventivamente afastados das funções operacionais, inclusive para atendimento e avaliação psicológica”, diz a nota.

“A PRF expressa seu mais profundo pesar e solidariza-se com os familiares da vítima, assim como está em contato para prestar apoio institucional”.