MPRJ prende candidato a deputado federal por esquema de desvio de dinheiro em Itatiaia, no sul Fluminense

Clébio Lopes Pereira, o Jacaré, foi preso na Operação Apanthropía/Reprodução

Investigações colocam político como cabeça de grupo que fraudou contratos entre as empresas e a Prefeitura de Itatiaia/Reprodução

Vaninho foi preso em casa, no município de Itatiaia/Reprodução

O candidato a deputado federal pelo União Brasil, Clébio Lopes Pereira, conhecido como Clébio Jacaré, foi preso na manhã desta quinta-feira (15) na 3ª fase da Operação Apanthropía, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio de Janeiro (Gaeco/MP-RJ) contra um esquema de desvio de dinheiro em Itatiaia, município do Sul Fluminense.

Outras quatro pessoas, entre as quais o ex-prefeito e vereador Silvano Rodrigues da Silva, o “Vaninho”, foram presas. São elas: Fábio Alves Ramos, ex-chefe de gabinete do prefeito de Itatiaia; Julio Cesar da Silva Santiago, vulgo “Julinho”, e Édnei da Conceição Cordeiro, ex-secretária de Assistência Social e Direitos Humanos do município.

Jacaré, que também é empresário e declarou à Justiça Eleitoral ter R$ 5,1 milhões em espécie, foi detido em casa, no Riserva Uno, condomínio de luxo na Barra da Tijuca, bairro da Zona Oeste do Rio. Investigações do MPRJ aponta que ele comandou um grupo que fraudou contratos entre as empresas e Itatiaia. Os promotores apreenderam no imóvel cerca de R$ 30 mil e 3 mil dólares em espécie.

Gaeco lista 15 denunciados
De acordo com o Gaeco, os 15 denunciados (Clébio Lopes Pereira, Imberê Moreira Alves, Fábio Alves Ramos, Julio Cesar da Silva Santiago, Édnei da Conceição Cordeiro, Raphael Figueiredo Pereira, Kézia Macedo dos Santos Aleixo, Gustavo Ramos da Silva, Fernando José Daemon Barros, Marcos Eduardo Noronha Fontes, Silvano Rodrigues da Silva, Alexandre dos Santos Campos, Vander Leite Gomes, Geilson Dias de Almeida e Eduardo de Almeida Pereira), “agindo de forma consciente e voluntária, em concurso de agentes, previamente ajustados e em unidade de desígnios entre si e com outros criminosos ainda não identificados, incluindo funcionários públicos, promoveram, constituíram, financiaram e integraram, pessoalmente e por interpostas pessoas, organização criminosa, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagens de qualquer natureza, mas especialmente financeiras oriundas de lesões ao erário, dentre as quais se destacam os crimes de estelionato contra a administração pública, peculato, concussão, corrupção passiva, corrupção ativa, contratação direta ilegal, fraude em licitação ou contrato, lavagem de dinheiro, dentre outros”.

Administração foi ‘vendida’
Ainda segundo a denúncia, as investigações demonstraram que a administração integral de Itatiaia foi “vendida” por seus prefeitos interinos a “investidores” do Rio de Janeiro e Região Metropolitana, surgindo a organização criminosa composta por agentes públicos.

Eles receberam valores para delegar a gestão do Poder Executivo (prefeitos interinos) e se omitir nas fiscalizações inerentes ao Poder Legislativo (vereadores), os quais foram pagos pelos comparsas que, em contrapartida, assumiram a condução de fato deste Município, focando no desvio de recursos públicos, inclusive a partir da nomeação de funcionários “fantasmas” e fraudes em contratos e licitações, visando recuperar o “investimento” realizado.

Prefeito paralelo e oculto
O juiz Marcello Rubioli, da 1ª Vara Criminal Especializada do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) expediu 41 mandados de busca e apreensão e cinco de prisão para serem cumpridos em Itatiaia, Valença, Angra dos Reis, no distrito de Visconde de Mauá, em Resende, e no Rio. Na decisão, o magistrado também ordenou o afastamento de seis dos dez vereadores da Câmara Municipal de Itatiaia.

As investigações do Gaeco apontam que Jacaré atuava como uma espécie de prefeito paralelo e oculto em Itatiaia e tinha como braço direito Fábio Alves Ramos, nomeado por ele chefe de gabinete do prefeito Imberê Moreira Alves, que comandou o município interinamente entre janeiro a junho do ano passado.

Então presidente da Câmara Municipal, ele assumiu a prefeitura porque o prefeito eleito, Eduardo Guedes, o Dudu, foi eleito em 2016 e reeleito em 2020. Entretanto, tinha assumido o cargo de prefeito provisório em 6 de julho de 2016, a 89 dias antes de sua primeira vitória nas urnas. No entendimento do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a reeleição em 2020 configurou um terceiro mandato consecutivo, o que é proibido.

Imberê foi afastado a pedido do MPRJ, na segunda fase da Apanthropia, sob a acusação de chefiar esquema de desvio de R$ 25 milhões em recursos emergenciais destinados à área de saúde. As investigações já na época alertavam que “Itatiaia atualmente é administrada por uma sólida estrutura criminosa instalada em diversas secretarias municipais”, como sustentou o Gaeco.

Jacaré e seus parceiros exoneraram todo o secretariado e indicaram nomes para o seu lugar. Imberê se limitava a assinar os atos. Vaninho chegou a ser preso por uma semana em junho do ano passado. É importante salientar que todos possuíam poder de comando, individual ou coletivo, sobre a organização criminosa.

O Gaeco suspeita que o mesmo esquema teria ocorrido em Japeri, na Baixada Fluminense, razão pela qual remeteu extratos da investigação para os promotores locais.

Classe política em alvoroço
Jacaré é apontado como um dos mais atuantes lobistas do RJ, com negócios suspeitos, acentuadamente na área de saúde. Em 2020, seu nome apareceu nas investigações da Operação Favorito, que tinha como principal alvo o empresário Mário Peixoto, e realizou uma devassa no governo de Wilson Witzel.
Na ocasião, dois empresários foram presos por venderem máscaras ao estado a preços superfaturados. Um deles teria subcontratado uma empresa do grupo de Clébio para aplicar o golpe.

No ranking dos candidatos mais ricos no estado do Rio, ele figura na nona posição, com um patrimônio total de R$ 15,9 milhões. Jacaré é presidente da Doctor Vip Brasil, empresa que teria sido favorecida em negócios na área de saúde da Prefeitura do Rio (na gestão de Marcelo Crivella), segundo apuração do Tribunal de Contas do Município (TCM).

Possível delação 

A prisão de Jacaré acabou abalando as estruturas da classe politica, que está alvoroçada e temendo uma possível delação premiada por parte do empresário. Fontes afirmam que ele teria ‘doado’ dinheiro para muitos aliados em diversas ocasiões. Os que foram beneficiados financeiramente poderão ser alvo do MPRJ e prestar conta sobre o status de relação com Jacaré.