Traficantes matam bombeiro militar que fotografou barricadas na Baixada Fluminense 

O major Bonin foi abordado pelos bandidos após fazer fotos das barricadas no São Matheus/Reprodução / Redes sociais

Fotos tiradas pelo major Wagner Bonin pouco antes de ser sequestrado pelos traficantes/Reprodução

Major bombeiro foi sequestrado e morto após denunciar as barreiras erguidas por criminosos em São João de Meriti; dois suspeitos já foram identificados

O ‘tribunal do tráfico’ cometeu mais uma barbárie. O corpo carbonizado de um oficial do Corpo de Bombeiros (BMERJ) foi encontrado na madrugada de quinta-feira (17) no porta-malas de um carro na Zona Norte do Rio de Janeiro. O major Wagner Luiz Melo Bonin, de 42 anos, havia sido sequestrado por traficantes em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, na tarde da última quarta-feira (16).

Segundo informações da Polícia Civil, o militar foi sequestrado após fotografar as ruas com barricadas erguidas próximas a sua residência no bairro São Matheus. O objetivo era denunciar na corregedoria do BMERJ. O major foi abordado por um grupo de criminosos, que o identificaram como bombeiro. Um dos marginais pegou o celular da vítima, encontrou as fotos e as enviou para o aparelho de um comparsa.

Para a polícia, esse procedimento é usado pelo tráfico como um pedido de autorização para matar, o que acabou acontecendo.

Dois suspeitos de envolvimento com o assassinato do oficial já foram identificados, mas os nomes não divulgados pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), que assumiu as investigações do caso por determinação do secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Fernando Antônio Paes de Andrade Albuquerque.

Os agentes da 64ª Delegacia de Polícia (São João de Meriti) identificaram que o aparelho que recebeu as fotos enviadas por um dos bandidos do celular da vítima é de propriedade da mulher de um dos suspeitos.

Ainda na tarde de ontem, uma operação envolvendo agentes do 21º Batalhão de Polícia Militar (São João de Meriti), do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) ocupou a comunidade São Matheus para a retirada de barricadas erguidas pelos criminosos e também realizou buscas na tentativa de localizar e prender todos os envolvidos no crime.

Inconformado com o avanço do tráfico
A Polícia Civil, que recebeu as fotos feitas pelo major, informou que ele estava inconformado com avanço do tráfico na comunidade. Desde o sequestro, a polícia acompanhou o rastreio do carro dentro do São Matheus até o momento em que encontraram o corpo carbonizado. A pericia do IML (Instituto Médico
Legal) confirmou que o corpo encontrado era de Wagner Bonin.

Militar atuou na tragédia de Brumadinho
Em fevereiro de 2019, o comandante-geral do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro deu a Wagner Bonin a medalha do mérito, força e coragem pela atuação do major na tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais. Na época, 270 pessoas morreram e centenas de corpos ficaram soterrados entre rejeitos da barragem, momento em que o trabalho dos bombeiros foi crucial.

O major tinha formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em Educação em Saúde e também atuava como enfermeiro no Grupamento de Operações Aéreas do Corpo de Bombeiros.

O Corpo de Bombeiros se pronunciou sobre o assassinato de Bonin por meio de nota: “(…) Nossa eterna continência a este eterno herói por todo o trabalho realizado em prol da sociedade, no cumprimento do juramento, honrando a missão de Vida Alheia e Riquezas Salvar. O Major Wagner Bonin jamais será esquecido. Toda a tropa está de luto. O CBMERJ confia na Polícia Militar e na Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro para esclarecer as circunstâncias do crime e prender os responsáveis.”

Cláudio Castro pede celeridade para prender assassinos
O governador do Rio, Cláudio Castro, determinou celeridade das polícias Civil e Militar na identificação dos culpados pela morte do major do Corpo de Bombeiros Wagner Luiz Melo Bonin, de 42 anos. A declaração foi dada por meio das redes do governador, na tarde desta quinta-feira (17). Um helicóptero da Polícia Militar foi visto sobrevoando baixo o Complexo do Chapadão, na Zona Norte do Rio, nesta manhã (17). Foi nesta comunidade que o corpo do major foi localizado. O caso está sendo investigado na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e até o momento ninguém foi preso.

O secretário de Defesa Civil e comandante-geral dos Bombeiros, Leandro Monteiro, também publicou em suas redes sociais vídeos que mostram trocas de tiros entre policiais do helicóptero da PM e traficantes.